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Para o estudioso, ampliar oportunidades exige reconhecer a história e a contribuição da população negra 

Dentro da programação da VI Mostra de Extensão, Ciência e Tecnologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), ocorre no dia 30 de outubro, às 19h15, a apresentação de nove trabalhos desenvolvidos por estudantes dos Programas de Pós-Graduação Stricto Sensu da Universidade. A atividade integra a VI Mostra da Pós-Graduação Stricto Sensu, que tem como objetivo divulgar os cursos de Mestrado e Doutorado da Instituição, por meio da apresentação de um trabalho indicado por cada Programa.

Um dos estudos escolhidos tem como título “Experiências de velhices negras em Santa Cruz do Sul-RS” elaborado pelo mestre e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) da Unisc, Diorginis Luis Fontoura da Rosa, com orientação da professora Silvia Virginia Coutinho Areosa. Segundo ele, a escolha pelo tema foi para refletir questões pessoais e a própria trajetória acadêmica. Já o interesse pelo envelhecimento humano surgiu em 2017, ao ingressar no Grupo de Estudos e Pesquisas em Envelhecimento e Cidadania (Gepec) da Unisc. 

“Desde então, busco compreender esse processo em sua complexidade. Nesse caminho, percebi a escassez de estudos sobre o envelhecimento da população negra brasileira, lacuna que motivou a pesquisa sobre as velhices negras. Essa escolha também é atravessada por experiências pessoais: cresci em Santa Cruz do Sul, conheço suas ruas, histórias e os desafios enfrentados pelas pessoas negras que aqui vivem. Em um município que exalta a cultura alemã em todos os espaços, eu me perguntava se essas pessoas se sentiam, de fato, pertencentes a ele, e como é envelhecer nesse contexto. Essa junção de vivências e inquietações consolidou meu interesse pelo tema”, ressalta.

Desde o início, o doutorando quis ouvir pessoas que representassem a história da comunidade negra de Santa Cruz do Sul. São trajetórias marcadas por desafios, conquistas e transformações vividas no município, que revelam as dores e resistências que moldam a presença negra local. Por isso, a seleção dos participantes ocorreu em duas etapas. A primeira envolveu pessoas idosas vinculadas ao S.C.B. União, instituição de papel histórico fundamental na preservação da cultura negra no município. Na segunda, entrevistou pessoas idosas negras não vinculadas ao Clube, mas reconhecidas como lideranças em movimentos sociais, grupos culturais e ações comunitárias. 

“Essa etapa foi construída em diálogo com integrantes dos movimentos negros locais, que contribuíram com indicações e reflexões sobre as vozes que mantêm viva a história e a luta da população negra. Essa divisão buscou reunir múltiplos olhares sobre o envelhecer em Santa Cruz do Sul. Ao todo, participaram 11 pessoas, entre homens e mulheres de 62 a 79 anos. Naturalmente, a pesquisa reflete as vivências e percepções desse grupo específico, mas cada relato trouxe fragmentos valiosos de suas trajetórias e da história do município.”

Diorginis define o processo como desafiador, mas que representou um amadurecimento pessoal e acadêmico. A pesquisa exigiu escuta sensível e respeito pelas histórias compartilhadas. Compreender o envelhecimento da população negra, segundo ele, significou revisitar a história do Brasil, marcada por desigualdades, violências e lutas. A análise evidenciou como o racismo estrutural atravessa todas as fases da vida, limitando o acesso à saúde, educação, trabalho e reconhecimento social. 

“Em Santa Cruz do Sul, essa realidade ganha contornos próprios: envelhecer como pessoa negra é enfrentar os efeitos de uma narrativa que exalta a herança germânica como símbolo de identidade e progresso, relegando a história e a cultura negras ao esquecimento, apesar de pessoas escravizadas terem vivido e trabalhado aqui, contribuindo para a formação do município. A presença dominante da cultura alemã, reforçada por instituições, festividades e símbolos urbanos, molda um imaginário que valoriza a branquitude e minimiza a contribuição negra. Os entrevistados relatam que essa valorização seletiva gera exclusões e violências, mantendo quem não é branco em constante estado de alerta. Ainda assim, as pessoas negras resistem: fortalecem suas identidades, atuam em grupos de ativismo e ocupam espaços culturais, como o Clube S.C.B. União, afirmando, pela cultura, sua importância e direito à presença.”

Durante a pesquisa, tanto no mestrado e agora no doutorado, Diorginis fala que as políticas de igualdade racial no Brasil, embora tenham avançado, ainda enfrentam grandes desafios. Para o estudioso, ampliar oportunidades exige reconhecer a história e a contribuição da população negra e criar condições para que pessoas idosas negras vivam com dignidade, autonomia e pertencimento. “Isso requer compromisso efetivo do Estado e da sociedade. O desenvolvimento só é real quando inclui a todos.”

Ele enfatiza ser fundamental que o município disponha de uma secretaria atuante no combate ao racismo, capaz de acolher denúncias e garantir espaços seguros. “O enfrentamento do racismo não pode depender de iniciativas individuais ou da boa vontade de governos ocasionais, mas de um compromisso institucional. Fingir que o problema não existe não o fará desaparecer. A baixa representatividade negra na câmara municipal também limita avanços. As ações são pontuais, sem continuidade ou estrutura. Enfrentar o racismo requer mais que discursos: exige coragem política, mobilização social e o reconhecimento de que não há desenvolvimento possível enquanto persistirem desigualdades que negam a humanidade e a cidadania de parte da população brasileira”, conclui.

Inscrições abertas

Os Programas de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado da Unisc estão com inscrições abertas, incluindo o Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional. Os interessados podem realizar a inscrição até o dia 17 de novembro, em unisc.br/mestradoedoutorado.

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Diorginis Luis Fontoura da Rosa

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