História da Anatomia Humana

            A anatomia é a ciência que estuda a estrutura do corpo. O vocábulo é derivado, indiretamente, do grego anatome, termo formado de ana, significando neste caso, “em partes”, e tome, significando “corte”. Do pondo de vista etimológico, o termo “dissecação” (dis significa “separadamente” e secare significa “cortar”) é o equivalente latino do grego anatome. Atualmente, Anatomia é a disciplina/área que estuda o corpo e, dissecação é considerado o método cientifico utilizado para tal estudo. Por muito tempo, o conhecimento anatômico se baseava apenas no estudo dos animais. Entretanto, o real entendimento da estrutura e do funcionamento do corpo humano só foi possível após a introdução da técnica de dissecção de corpos humanos. A compreensão da circulação do sangue, da disposição dos diversos órgãos e a possibilidade de desenvolver operações para o tratamento de diversas doenças só foi possível com o progresso da Anatomia. Por todos estes motivos, a ciência anatômica é considerada básica para os profissionais da área da saúde. Em outras palavras, esta disciplina é fundamental para a formação destes profissionais e, por isto, costuma ser ministrada nos primeiros semestres dos cursos de graduação em todas as instituições de ensino superior. Não há como progredir nos estudos sem conhecer muito bem a anatomia do corpo humano.
            A estratégia de estudo da Anatomia Humana foi progredindo ao logo de vários séculos, conforme breve descrição abaixo referente à história da Anatomia Humana, realizada por Gardner (1975).  
            A anatomia da Grécia teve sua origem no Egito antigo, onde Imhotep, um misto de arquiteto, médico e mago foi considerado como sendo o primeiro homem que se tem registro a estudar a anatomia do corpo humano. Os antigos egípcios deificaram-no, identificando-o a Esculápio, deus da medicina, sendo sua tumba local de peregrinação religiosa na antiguidade. Viveu no século XXVII a.C., tendo sido vizir ou ministro-chefe de Djoser, o segundo rei da terceira dinastia egípcia. Seu estudo do corpo justificava-se pelo fato do mesmo ser o responsável pelas mumificações do referido período.
            Na Grécia antiga, Alcmaeon de Croton (Ca. 500 a. C.) forneceu os mais antigos registros de observações anatômicas reais, utilizando basicamente animais.
            Hipócrates de Cos (Ca. 400 a. C.) é considerado um dos fundadores da ciência anatômica. A anatomia humana de superfície foi estudada em obras de arte da Grécia desde o século V a.C. Hipócrates escreveu as obras: De Anatomia (a.C. meados do século IV) é o mais antigo tratado de anatomia e, Do Coração (340 a.C.),  a mais antiga obra anatômica completa. De Fraturas e Deslocamentos contém a primeira descrição clara de anatomia cirúrgica. Hipócrates é Considerado o pai da Medicina Ocidental, considerava o encéfalo como o centro das emoções.
            Aristóteles (384-322 a. C.) foi o fundador da anatomia comparativa. Considerava o coração como o centro das emoções, equivoco que persiste até os dias atuais. 
            Herófilo da Calcedônia (ca. 300 a. C.) foi chamado “pai da anatomia” e, Erasístrato de Quios (ca. 290 a. C.) foi denominado “pai da fisiologia”. A anatomia está para a fisiologia como a geografia está para a história, ou seja, ela prevê o local para os eventos, embora o interesse primordial da anatomia esteja na estrutura, estrutura e função devem ser consideradas simultaneamente. Ambos fundaram a escola da Alexandria, primeira Universidade da história, impulsionando as ciências anatômicas.
            No Império Romano, o médico Rufo de Éfeso (ca. A.D. 50) investigou sobre o coração, os olhos e a neuroanatomia. Publicou o primeiro livro de nomenclatura anatômica, denominado Da Denominação das Partes do Corpo.
            Sorano de Éfeso (ca. A.D. 100), médico metodista, distinguiu e definiu doença crônica e doença aguda, através das suas observações clínicas. A descrição da anatomia do útero tem sido considerada uma das melhores obras da antiga anatomia descritiva.  
            Galeno de Pérgamo (ca. A.D. 130-200) foi médico dos gladiadores e do imperador romano Marco Aurélio. Em 170 demonstrou que as artérias conduzem sangue e não ar. No campo da anatomia, distinguiu os ossos com e sem cavidade medular. Descreveu a caixa craniana e o sistema muscular. Pesquisou os nervos do crânio e reconheceu os raquidianos, os cervicais, os recorrentes e uma parte do sistema simpático. Foi o primeiro a demonstrar que o rim é um órgão excretor de urina. Os doze pares cranianos são até hoje numerado do I ao XII por terem sido descritos por Galeno.
            O estudo da anatomia humana fica adormecido por mais de mil e duzentos anos, muito provavelmente pela eterna “batalha” entre ciência e religião, voltando a ter registros somente no século XIV, onde dissecações públicas foram realizadas na Itália e na França. Existem relatos que as dissecações começaram na Itália antes de 1240. Em 1315 Mondino de Luzzi (1276-1326), considerado o “restaurador da anatomia” realizou dissecações publicas em Bolonha e escreveu sua Anatomia (1316).
            No século XV a anatomia foi estudada por artistas como, por exemplo, Leonardo da Vinci (1452-1519), seus desenhos, estudos e conclusões sobre circulação, músculos e olhos foram relevantes para a época. Ilustrações anatômicas começaram a ser impressas na última década do século XV.
            Já no século XVI, Berengário da Carpi (1470-1550) publicou a obra Comentário sobre Mondino, sendo esse o primeiro compêndio ilustrado de anatomia. A nomenclatura anatômica foi criada por Jacó Sílvio (1478-1555). A anatomia foi reformulada por André Vesálio (1514-1564) em 1543 com a publicação da sua obra De humani corporis fabrica – Dos Trabalhos do Corpo Humano. Vesálio preparou material didático voltado para o estudo acadêmico e, comprovou que muitos aspectos descritos por Galeno, a mais de mil anos, estavam equivocados. Este é o mais renomado anatomista da história, considerado como “o pai da anatomia moderna”.
            No século XVII aconteceu a primeira dissecação humana registrada na América, ocorrida em 1638 em Massachusetts. Em 1660 o álcool passou a ser utilizado para conservação de peças/cadáveres e, a formalina, somente em 1890.
            Famosos museus anatômicos foram fundados no século XVIII por Willian (1718-1783) e John Hunter (1728-1793). No século XIX iniciaram as dissecações anatômicas realizadas por alunos de Medicina. Em 1828 na cidade de Edinburgh, William Burke e William Hare cometeram 16 assassinatos para venda de cadáveres, três anos depois em Londres, outro assassinato, foi seguido pela aprovação da Warburton Anatomy Act (Ato para a Regulamentação de Escolas de Anatomia, 1832), disposição pela qual era permitido usar para dissecação cadáveres não reclamados. A primeira lei anatômica na América foi aprovada em Massachusetts em 1831.
            No Brasil, a Lei 8.501 de 30 de Novembro de 1992 normatiza as doações de cadáveres pelos órgãos governamentais, os quais podem doar corpos “não reclamados” que não tenham tido morte violenta, para Universidades legalmente estabelecidas no país para fins de ensino e pesquisa.